segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma profissão em evolução: profissionais da informação no Brasil sob a ótica de Abbout - proposta de estudo

Na segunda aula da disciplina, foi utilizado o texto "Uma profissão em evolução: profissionais da informação no Brasil sob a ótica de Abbout - proposta de estudo", da Prof. Dra. Suzana Pinheiro Machado Mueller.
O texto aborda o estudo das profissões, a profissionalização, a proposta de Abbout e sua visualização na realidade brasileira.

Resumo:

            O uso do termo profissional da informação reflete “a compreensão de que, na realidade atual, os serviços de informação apresentam enorme complexidadade, demandando mais que o trabalho isolado de qualquer profissão.”
            Observa-se, hoje, na literatura e no mercado de trabalho que os profissionais da informação vêm passando por modificações no seu perfil e nas suas tarefas profissionais.”

            A questão da profissionalização

            Há bastante consenso na literatura de que os atributos que podem caracterizar uma profissão são:

·         a presença de um corpo de conhecimento especializado, sistematizado e abstrato;
·         a autonomia no exercício profissional;
·         a capacidade de autoregulação
·         a existência de procedimentos de credenciamento;
·         o exercício da autoridade sobre os clientes;
·         e a publicação de um código de ética.

Alguns eventos compõem o processo de profissionalização: primeiro, as pessoas passam a se dedicar a determinado trabalho em tempo integral, em seguida surge a necessidade de treinamento formal. Inicialmente esse treinamento é fora da universidade, depois os cursos procuram obter status acadêmico. Com o passar do tempo, o nível de estudo se aprofunda e os assuntos se tornam mais complexos.
Depois de atingir certo amadurecimento, é criada uma associação profissional e a profissão publica um código de ética, visando estabelecer regras de relacionamento entre os pares, impedir a prática dos não-credenciados e proteger (reservar) o seu mercado de trabalho.

A proposta de Abbout

Dentre as abordagens teóricas para estudo das profissões, “Abbout(1998) oferece uma abordagem inovadora e interessante, que ressalta o contexto onde a produção estudada existe, o conflito entre grupos profissionais e a disputa pelo poder.
Resumidamente, na teoria de Abbout cada profissão se dedica a um conjunto de tarefas profissionais às quais está ligada pelo que chama de “laços de jurisdição”.
“Há um número limitado de jurisdições no sistema e as profissões estão sempre competindo para manter o domínio exclusivo daquelas que julgam corresponder à sua tarefa profissional.
“Domínio pressupõe controle. O domínio de uma jurisdição, no modelo de Abbout, envolve dois tipos de controle: social e cultural. O controle cultural é exercido no desempenho do trabalho profissional e legitimado pelo por um corpo de conhecimento acadêmico enraizado em valores fundamentais, aceito pela sociedade. O controle social, por outro lado, é conquistado por meio das reivindicações que a profissão faz em três arenas: opinião pública, meios legais e mercado de trabalho. Tanto o controle cultural como o social refletem a exigência de exclusividade. A característica de exclusividade está na base da teoria proposta, pois são as lutas que ela gera que explicam como as profissões se formam.”

Conhecimento Abstrato

“A existência de um corpo de conhecimento abstrato de características acadêmicas é condição que distingue profissão de ocupação. Esse corpo de conhecimento fundamenta o discurso ou retórica da profissão, orienta a formação dos futuros membros e fornece sustentação à prática.”
            “Ao mesmo tempo em que fortalece a profissão, o corpo de conhecimento abstrato é também um ponto vulnerável na sua estrutura. Na luta pela jurisdição, uma profissão desafiante pode colocar em dúvida a interpretação dada ao problema pela profissão dominante e oferecer a sua como uma melhor solução, na tentativa de convencer a sociedade de que é mais capaz de resolvê-lo(...) . Logo quanto mais coeso e lógico for o corpo de conhecimento que dá sustentação a um grupo profissional, maior a resistência dessa profissão aos ataques de rivais.”

            Os profissionais da informação no Brasil sob a ótica deAbbout

            “Tendo como referência o modelo de Abbout, propõe-se adotar o pressuposto que os profissionais da informação detém hoje o domínio do que se convencionou chamar, de maneira ampla e imprecisa, jurisdição da informação”.
            “Embora não haja consenso sobre todas as profissões que poderiam ser incluídas na designação profissionais da informação, poderíamos dizer que, no Brasil, bibliotecários, arquivistas e mestres e doutores em ciência da informação formam o núcleo desse grupo.”

QUESTIONAMENTO:

            O modelo de Abbout tem como uma de suas principais características a exigência de exclusividade no domínio das jurisdições profissionais. Segundo Mueller, podemos dizer que no Brasil, os bibliotecários, arquivistas e pós-graduados em Ciência da Informação constituem o núcleo do grupo profissional da informação.
            E quanto a forte atuação de profissionais da História, da Comunicação, da Administração e das Tecnologias da Informação, entre outros, no mercado teoricamente dominado pelo núcleo citado?
            Como fica a exclusividade de mercado e atuação para os reconhecidos como profissionais da informação? Será que eles estão tendo os seus domínios invadidos? Ou será que estão dividindo um espaço na disputa de por novos domínios?

Post de Flávia Helena de Oliveira

6 comentários:

  1. Segundo a abordagem de Abbott, existem as disputas profissionais, estas são benéficas para a consolidação ou mudança de perfil de uma certa profissão ou abrem espaço para outras profissões atuarem. No caso dos profissionais da informação vejo de maneira positiva a atuação de outros profissionais fora desse núcleo inicial, contudo, desde que estes atuem em conjunto.

    Por Mara Karoline.

    ResponderExcluir
  2. Mesmo havendo uma indicação das áreas de formação dos profissionais da informação, como sendo a dos bibliotecários, os arquivistas e os formados pelos cursos de pós-graduação, podemos perceber que é justamente na Pós onde há o maior índice de interdisciplinaridade, pois a própria abrangência do conceito de informação têm atraído vários profissionais de outras áreas, com isso podemos perceber que de acordo com o modelo de Abbott há uma inquietação pelos profissionais da área.

    ResponderExcluir
  3. A abordagem de Abbott relata que o crescimento da demanda da informação, faz com que haja a necessidade de compartilhamento de informações de entre as jurisdições profissionais, isso faz com que o profissional da informação cresça perante os outros profissionais.

    Marcelo Jesus

    ResponderExcluir
  4. Sob a ótica de Abott os Profissionais da Informação vêm passando por modificações em seu perfil e nas suas tarefas profissionais. Abott propõe que todas as profissões sejam consideradas integrantes de um mesmo sistema, dentro do qual competem por espaço e poder. E a disputa pela jurisdição, pelo domínio é a verdadeira história das profissões. O domínio de uma jurisdição, no modelo de Abott envolve o controle social e cultural. Pelo modelo sugerido por Abott o profissional da informação detem hoje, o domínio da "jurisdição da informação". Fica o questionamento se profissionais de outras áreas que também trabalham com a informação estão invadindo a jurisdição dos profissionais da informação cujo núcleo é formado por arquivista, bibliotecários e os mestres e doutores em Ciência da Informação.

    ResponderExcluir
  5. Considerar determinado grupo de profissionais como dominantes de uma jurisdição é, de alguma forma, proteger o mercado de trabalho de áreas específicas e em nosso caso a informação é o que defendemos. Que todo profissional lida com informação isso é fato mas, identificar, tratar, conservar, recuperar... continuarão a ser atividades de profissionais que necessitam de formação específica.

    ResponderExcluir
  6. Flávia, tudo bem?
    Este texto da Mueler é de quando?
    Obrigada,

    Juliana Alves Moreira
    Mestranda em Ciência da Informação - ECI/UFMG

    ResponderExcluir